As experientes estrelas de estrada Kasia Niewiadoma e Matej Mohorič mudaram de terreno para conquistar os títulos de Elite no Campeonato Mundial de Cascalho UCI 2023, realizado há poucos dias no Vêneto, na Itália. “Os pilotos que estão fazendo isso são pilotos muito completos”, explica Nathan Haas, ex-profissional australiano de ciclismo de estrada que tem se concentrado no saibro nos últimos dois anos.

“Foi a minha primeira prova de saibro”, disse Kasia Niewiadoma no sábado, depois de a polaca líder do UCI Women’s WorldTeam Canyon//SRAM ter vencido a camisola arco-íris na prova de Elite Feminina. Quanto ao esloveno Matej Mohorič, que conquistou o ouro na prova de Elite Masculina no dia seguinte, afirmou antes da largada: “Nunca fiz uma corrida de saibro, mas muito andar nesse tipo de superfície, então veremos”. O que vimos foi um grande desempenho nas estradas complicadas e subidas íngremes no Vêneto, ultrapassando a coroa de outro piloto do UCI WorldTour, o belga Gianni Vermeersch, que venceu em 2022.

Os entusiastas do cascalho desenvolveram uma disciplina e um ambiente com uma identidade específica e, no entanto, estrelas do pelotão de estrada dominaram as duas primeiras edições do Campeonato Mundial de Cascalho UCI. “Os pilotos que estão fazendo isso são muito completos”, explica o australiano Nathan Haas. “Você não está recebendo alguém que está apenas empurrando watts por quilo, você está realmente recebendo alguém como Matej Mohorič, que é um dos pilotos mais habilidosos da moto”, acrescenta.

OS REIS E RAINHAS DA VERSATILIDADE

Os campeões mundiais de cascalho UCI brilham durante todo o ano em eventos internacionais de estrada, mas um olhar mais atento sobre suas origens conta uma história muito mais rica. Mohorič começou com mountain bike. “Fui para a estrada porque um amigo meu fez”, lembra. Seu antecessor Gianni Vermeersch cresceu com o ciclocross, modalidade na qual Mathieu van der Poel (medalhista de bronze no Campeonato Mundial de Cascalho UCI de 2022) e Wout van Aert (8º no evento em 2023) desenvolveram sua versatilidade. Entre as estrelas femininas, o primeiro Campeonato Mundial de Cascalho UCI foi vencido pela francesa Pauline Ferrand-Prévot, “a princesa da versatilidade”, segundo Haas, que considera Marianne Vos “a rainha” neste campo, mas ainda assim admira a abordagem e as conquistas de Ferrand-Prévot: “Ela é absolutamente incrível para o esporte. Para mim, quando ela vem para uma corrida de saibro, espero que ela vença. Ela é um dos maiores talentos do mundo, mas não quer se limitar a apenas uma disciplina. Vimos isso no ano passado, quando ela ganhou vários títulos em diferentes modalidades [cascalho, mountain bike, cross-country, olímpico, mountain bike, cross-country, short track e mountain bike cross-country, maratona]. Coroada em 2023, Niewiadomą se concentra nas corridas de rua ao longo do ano, mas conseguiu compensar sua falta de experiência off-road graças à sua comitiva. “Tive muito apoio da Canyon e da SRAM para me preparar para hoje, e também da Tiffany [Cromwell, uma de suas companheiras de equipe, que corre tanto de estrada quanto de saibro] que respondeu a muitas das minhas perguntas antes da corrida. Essa vitória é incrível e sou muito grata por todos que ajudaram”, explicou logo após a vitória.

“HÁ MUITO O QUE APRENDER”

“Pedi dicas e truques a Tiff muito antes do Campeonato Mundial da UCI”, disse Niewiadoma, confirmando que não se improvisa corridas de saibro. “Ela compartilhou comigo seu conhecimento sobre equipamentos e equipamentos certos. Além disso, a importância da escolha dos pneus e da pressão. Ela explicou a diferença entre corrida de rua e corrida de saibro quando se trata do esforço que fazemos.” Seu talento bruto e o apoio que recebeu trouxeram a Niewiadoma sua primeira camisa arco-íris, bem como sua primeira vitória desde uma etapa do OVO Energy Women’s Tour (estrada) de 2019. No UCI Gravel World Championships, ela dominou a italiana Silvia Persico, acostumada a brilhar na estrada e no ciclocross, e a holandesa Demi Vollering, imparável este ano no UCI Women’s WorldTour. “Não acho que nenhuma corrida de rua que fiz tenha sido tão difícil quanto hoje”, garantiu o astro holandês neste sábado.

“Há muito aprendizado”, finaliza Nathan Haas: “Você está sozinho, e isso não é apenas uma ilusão. Você pode ser super forte, mas se você não sabe pilotar a moto nas seções técnicas, provavelmente vai quebrá-la, ter um pneu furado ou bater, o que imediatamente o tira da corrida. E se você não sabe como consertar sua bicicleta, você nem está voltando para casa. É um esporte muito independente, que eu adoro, mas esse é o desafio para muitos quando descobrem o cascalho.”